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Era uma vez um anjo

Dezembro 22, 2023

GLÓRIA DE SANT’ANNA

 

Era uma vez um anjo que de dentro da treva afastava

a lança das portas de ombreiras marcadas de sangue

dentro das quais ninguém dormia

todos vestidos e de bordão pronto para o caminho

 

Era um vez um anjo que golpeava a noite alheia de

gritos e de queixas.

Era uma vez um anjo que traçava na poeira o trilho

do castigo.

 

o anjo cobria o rosto

mas das portas de umbrais sangrentos

ninguém assomava

– era desnecessário –

todos de sandálias calçadas para o êxodo.

o forno vazio de fermento

na boca o travo da última alface brava

unidos para uma nova madrugada

 

Unidos

 

in Do Tempo Inútil (p.58) Edição Académica – Volume 9 da colecção, O Som e o Sentido – Maputo, Moçambique 1975

 

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  1. Ribamar Bernardes permalink
    Janeiro 7, 2024 3:43 pm

    Bravo!

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